O descarte da borra de café coado ou expresso é um problema pouco falado no Brasil. Hábito comum da grande maioria das pessoas, tomar um cafezinho pode se tornar um problema quando o descarte deste material é realizado de forma incorreta.
Existe um mito popular de que a borra de café ajuda a desentupir o encanamento de forma natural. A verdade, no entanto, é o oposto. Este material, após entrar em contato com a água quente, libera muitos óleos, e quando decanta se agrega às gorduras presentes no esgoto causando entupimentos.
Descartada no lixo comum, a borra de café pode sobrecarregar aterros e aumentar a produção de chorume – líquido poluente originado da decomposição de resíduos orgânicos.
A “cada um quilo de café utilizado no preparo da bebida, este se transforma em dois quilos de borra, devido à umidificação do grão moído. Ou seja, esse resíduo terá o dobro de massa”, explica o biólogo e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Sérgio Thode. Assim, o melhor descarte é a utilização do pó, após o preparo da bebida, para a compostagem.
A borra de café quando passa pelo processo da compostagem torna-se um ótimo adubo orgânico. É um material nobre e rico em nutrientes, com ótimas propriedades químicas para o solo por conter boa concentração de nitrogênio (26%) e carbono orgânico (48%).
Na presença de outros materiais orgânicos, como cascas de frutas, legumes e restos vegetais, ela será degradada na composteira ou leira de compostagem e o húmus obtido é um bom fertilizante. Os benefícios da utilização da borra de café compostado em jardins são comprovados. Entretanto, deve-se usar a dosagem certa, para que o excesso não seja prejudicial às plantas.
Algumas espécies têm maior exigência nutricional e outras menos. A dosagem e a frequência de aplicação são orientações que devem vir de um profissional da área. O ideal é utilizar este material compostado e não o colocar in natura diretamente nas plantas.
Devido à grande quantidade de borra de café produzida no Daae, a autarquia tem executado um projeto-piloto de compostagem. Por mês, são aproximadamente 300 quilos de borra de café que vão para a composteira e viram adubo orgânico. São 300 quilos que deixam de ir para a rede coletora de esgotos e para o lixo.
A ideia de utilizar estes resíduos como adubo veio da funcionária Graci, que prepara todos os dias o café para os funcionários do Daae. Incomodada com a grande quantidade de resíduos gerada, a mesma entrou em contato com o setor de Resíduos Sólidos, que através do Técnico Gabriel Salazar resolveu a questão, organizando os recipientes para a coleta, a logística do mesmo até a ETRS (Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos) e monitoramento da composteira, bem como a frequência de aplicação, em alguns jardins dos próprios da autarquia.
Vale ressaltar que este é um projeto-piloto e os técnicos da autarquia, após a implementação desta, tem estudado outras possibilidades em relação a este tipo de resíduos que em alguns locais é gerado em grande escala e descartado de forma inadequada. Este piloto, por hora, se deteve apenas na compostagem do resíduo gerado internamente na autarquia, mas os estudos têm se aprimorado para melhorar o descarte deste material.
Referências
PORTO, E. H. Resíduo de café (borra) e seu efeito no carbono orgânico e nos atributos microbiológicos do solo cultivado com cafeeiro orgânico. Brasília: Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 2013, 47 p.
FERREIRA, A. D. Influência da borra de café no crescimento e nas propriedades químicas e biológicas de plantas de alface (Lactuca sativa L.). Dissertação (Mestrado em Qualidade e segurança alimentar) – Escola Superior Agrária de Bragança, 2011.